domingo, 20 de fevereiro de 2011

Relembrando ..

Lembro de um passado, um passado que nem é tão passado, mas que também não aconteceu ontem.

Lembro de quando contava as horas para chegar o final de semana, isso porque nunca fui fã de escola, então quando a sexta-feira chegava, era um alívio enorme, por uns 5 anos [ 1996-2001] eu poderia ser vista facilmente, com uma bicicleta, bola,com muitos meninos e meninas, eu tive uma infância realmente feliz, daquelas que a mãe sai de casa para te bater e te expulsar do video-game na frente de todo mundo.

Mas a gente cresce, é inevitável, e como me assustei nesse novo mundo, quando comecei a crescer, me isolei no meu quarto, é como se ele fosse minha proteção, nada poderia me atingir enquanto eu estivesse lá.

Passei por todas angustias e inseguranças que qualquer pessoa BV na vida passa, e ainda mais no meu caso, minhas amigas já namoravam e tudo mais, mas eu não queria, sei que poderia ter fingido algo que não sou, apenas para me adaptar, mas não quis isso, então não beijei qualquer um só porque minhas amigas haviam beijado.

Eu me pegava pensando em como seria esse tal do primeiro beijo, eu só sabia de uma coisa, não seria com um garoto, e acabou não sendo, pois não costumo fugir das minhas ideias e das minhas verdadeiras vontades. Meu primeiro beijo foi sem sal, assim como o da maioria das pessoas.

Eu queria que tivesse acontecido com uma menina que eu gostasse, tivesse carinho, mas sempre fui muito fechada, minha forma de me proteger, era não me abrir, acho que desde sempre eu não confiei nas pessoas, sempre fui muito desconfiada, sorte a minha.

Lembrei que até meus 17 anos, por mais que não demonstrasse, eu queria sentir algo por alguém, desde então achei que isso era apenas coisa desses filmes românticos que eu assistia, achei que no mundo real, eu não encontraria alguém.

Mas acabei encontrado alguém, na verdade, mais de uma pessoa, e posso dizer que em todos os casos os sentimentos eram iguais e diferentes. Posso ter me preciptado, posso não ter amado, não acho que o amor seja essa coisa sem graça de " Fim e seja feliz " e pronto, as pessoas se separam, se apaixonam e são felizes, acredito que isso seja paixão, então posso dizer que já me apaixonei por muitas pessoas nessa minha vida. Hoje sinto algo muito forte por alguém, me arrisco sim em dizer que é amor, se um dia eu olhar para trás e me enxergar hoje, e ter certeza de que não é, saberei admitir.

Na fase da adolescência e até meus 19 anos, sempre fui inacreditavelmente tímida e sozinha, a partir dos meus 12 anos, eu era sempre a excluida do grupo, a sensação de quando existia um trabalho em grupo na escola, era horrivel, eu sempre ficava com aqueles que também não tinham grupo, e as vezes até fazia isso sozinha, acho que a partir dai, meu lado frio, egoísta e de não demonstrar sentimentos, foi nascendo, pois não existe sentimento pior que solidão, e assim passaram uns 6 anos da minha vida, 6 anos em que minha única companhia era eu mesma, a única presença em meus aniversários, era minha mãe, meu pai e minha irmã, enquanto todo mundo me perguntava " Porque não chamou as amigas? " e eu respondia, não gosto de festa, quando na realidade a verdade é que eu não tinha amigas. Foi uma fase muito dificil da minha vida, e que mudou apenas no ano de 2009, quando viajei para Cruz das almas/ Ba , justamente porque enfim parecia que eu tinha descoberto o que era amizade.

Acho que as pessoas desse lugar, especialmente duas, nem se deram conta até hoje, de quanto aqueles momentos eram inéditos em minha vida, e das vezes que pensei antes de dormir , sobre a sorte de ter encontrado verdadeiras amizades e ligações. Também não tiveram noção do quanto me machucaram quando desconfiaram de mim, e imaginaram algo que eu não sou, um desconhecido pensando o que quiser de mim, eu não me importo, mas com amigos, a coisa é diferente, e só eu sei o quanto fui verdadeira e tão eu, posso sim ter errado muito, mas o erro faz parte da pessoa que fui e que sou. Não sei se alguém de Cruz das almas lê meu blog hoje em dia, mas caso leiam, saibam que conhecê-los, foi o pontapé inicial para me abrir para a vida e sair do meu quarto, de fechar essa porta sem medo de sofrer.

Hoje meus anseios e incertezas são outros, não sei como tudo vai acabar, mas como diria Martha Medeiros, UM DIA SEREI UMA VELHA COM CARA DE MALVADA, me pergunto como irei agir no futuro, me pergunto se assim como meus pais, eu vou afastar meus filhos das pessoas que eles gostam, apenas porque eu acho que isso é o melhor para eles, me pergunto se olharei o amor com os mesmos olhos, ou se estarei amargurada afirmando por ai que isso não existe, me pergunto se nessas futuras etapas, eu estarei com alguém, ou se todas as pessoas que passaram pela minha vida vão seguir rumos opostos, eu só sei que UM DIA SEREI UMA VELHA COM CARA DE MALVADA.

E ao me verem nas ruas, na padaria comprando pão, o que irão pensar de mim? com certeza vão se questionar se fui feliz, meu olhar, que estará mudado devido ao tempo, não vai mais me entregar assim, e meu corpo desgastado com o passar dos anos, não conseguirá passar nenhum sinal, além de cansaço.

Um dia serei uma velha com cara de malvada, e não sei se nesse dia, ainda olharei o ceu que é tão lindo a noite, não sei se terei forças para escrever, e emoções para sentir, a única coisa que sei é que as pessoas que me colocaram no mundo e me ensinaram tantas e tantas coisas, não vão estar mais comigo, e eu vou me entupir de remorso pensando em quantas coisas poderiam ser diferentes e não foram.

Um dia serei uma velha com cara de malvada, e talvez possa enxergar que no mundo atual, o relacionamento homossexual não assusta, ou então enxergarei o mesmo preconceito e hipocrisia que já existem, talvez nem me importe com isso, minha vontade de dormir será maior do que minha vontade de lutar.

Um dia serei uma velha com cara de malvada, e olharei meus filhos e direi : Hoje tenho cara de malvada, sou velha, e cansada, mas há alguns anos atrás, senti as mesmas emoções e vontade de viver que vocês sentem agora, Sejam Felizes!

Patricia Gois

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