segunda-feira, 3 de maio de 2010

Desvaneiando

Eu baixei a cabeça e segui.
Depois de me despedir pensei na possibilidade de nunca mais encontrá-la.

Depois daquele abraço que poderia ser o último, eu forcei bem a mente pra não esquecer do calor dela. Nem do cheiro dos cabelos negros... Nem de como os olhos de ambas ameaçaram transbordar quando tivemos que dizer “até...”.

Não vou mentir: eu senti medo de tantas diferenças. E até tentei não me deixar estranhar tanto uma na outra. Até pensava que seria fácil demais colocar uma pedra sobre tudo e partir com as mãos no bolso, um assobio desprezível nos lábios, e sem olhar pra trás.

Eu pensava que poderia partir completa. Mas metade de mim ficou com ela, no abraço apertado que quase fez meu coração parar, guardado nos olhos tão escuros dela, nos suspiros do querer e do conter, na meia noite daquele dia frio.


Então ela vai por aí essa noite - só.
E eu, em casa, planejava encontrá-la pra consumar aquilo que se foi prometido.
Ela é bonita feito os ipês amarelos que contrastam com os céus da primavera.
Ela tem pinta de última romântica, ouve musica clássica, toma vinho e recita poesias.

Ela tem aquele jeito de quem já sofreu por amar demais e apostar todas as suas fichas em quem não merecia tanto crédito. E ela tem mãos macias que me faz acreditar em tudo outra vez. Que me deixa sonhando por noites e noites à um simples toque na coxa esquerda – enquanto confessa seus planos e vontades. Ainda secretos.


Ela sabe fugir o olhar quando fica insuportavelmente difícil resisti-lo.Todavia eu a desejo, e sei sentir seu perfume só com o pensamento. E então sinto tudo outra vez: as mãos macias dela nas minhas mãos macias , a pele doce dela no paladar dos meus desejos, o idioma romântico dela somado ao meu ar apaixonado.



Hoje eu vou sair, só, e vou procurá-la, mas não vou encontrar.

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