domingo, 2 de maio de 2010

Sobre Ela


Era uma vez a menina que não sabia mentir.

E eu gostava de vê-la na queda d'água, gostava de ver também a queda d'água de dentro dos olhos dela cada vez que ela dizia uma das suas milhões de verdades.

A menina que não sabia mentir acreditava num mundo diferente, diferente inclusive de todos os mundos que já imaginei e precisei criar pra poder seguir intacta no meio desse roseiral cheio de beleza que se esconde entre espinhos.

A vida é assim, o que há de melhor sempre se esconde entre as dificuldades. Não se pode evitar a queda que precede o levantar, não há prazer nas viagens mais simples, não há felicidade sem a coragem de enfrentar a possibilidade de ganhar ou perder.

Falo dos espinhos do roseiral. Mas não é sobre isso que quero falar. Quero falar-vos sobre a menina que não sabia mentir. Mas preciso recomeçar, sinto que não comecei como deveria.

Era uma vez a menina que não sabia mentir. E eu gostava de vê-la dormir enquanto pensava em toda a inquietude que ela me causava por dentro. Ela também tinha cabelos curtos , negros e brilhantes como uma floresta iluminada a noite, e os olhos cheios de uma força que eu finjo não saber de quê. Uma cortina talvez, quem sabe...

Era uma vez a menina que não sabia mentir e uma rosa murcha roubada do canteiro da frente do único bar legal da rua inteira, um sábado que me fez feliz e eu. Era uma vez meu polegar rasgado, meu coração entregue, e a menina que não sabia mentir. Era uma vez céu azul e vento frio, muito frio. Coração quente, muito quente. Satisfeito.

Era uma vez eu, que gostava de ir ao lado da menina que não sabia mentir, eu que já havia aprendido a não sentir dor causada pelos extremos, nem extrema mentira, nem extrema verdade, porque isso também pode ferir às vezes. Eu que sempre me interessei pelo não dito, pelo que se esconde em meio as palavras explicadas, pelas verdades preservadas. Era uma vez meus abraços, os abraços dela, Te quero muito e meu interesse de ir a qualquer lugar que me levasse pra mais perto da menina que não sabia mentir.

Era uma vez, e eu não sei o que virá depois disso nessa história... Só sei que quero muito que venha qualquer coisa bonita que nos faça continuar acreditando e remando até a outra extremidade desse rio que pode ser muito raso ou muito fundo, não se sabe ainda.

Quero que depois do era-uma-vez exista uma semana bonita em qualquer lugar que seja , em Paris ou numa cidadezinha qualquer, quero saber o que os olhos-nos-olhos sempre dizem e quero que no final esteja escrito que foram-felizes ainda que não seja para-sempre, depois de um tempo a gente entende que isso não é o mais importante.

O importante hoje é ir assim, sabendo que faço parte de um era-uma-vez que tem a possibilidade de me transformar em alguém melhor do que sou, e que ao meu lado está a menina que não sabia mentir.

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Escrevi para alguém , que não se sabem quem é , mas é alguém , garanto.

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